Bugio-preto (Alouatta caraya)

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O bugio-preto (Alouatta caraya Humbold 1812)é uma espécie de primata que habita florestas tropicais e savanas no sudoeste e centro do Brasil, ocorrendo principalmente no Cerrado. É encontrada em formações de Matas de Galeria e Matas Semideciduais. A distribuição dessa espécie não segue barreiras geográficas evidentes, estendendo-se por áreas que incluem quatro países – Brasil, norte da Argentina, leste do Paraguai e da Bolívia, além de uma provável ocorrência no Uruguai (Inglêz, 2006).

Fotos: Ouwesok

Estado de Conservação

NT – Quase ameaçada (Bicca-Marques et al., 2021)

Apesar de sua ampla distribuição, da ocorrência em inúmeras reservas naturais de vários países e da aparente habilidade de adaptação a ambientes modificados, o bugio-preto (Alouatta carayaencontra-se atualmente na categoria Quase Ameaçada (NT – Near Threatened A4cde ver 3.1), segundo definições da IUCN. Até 2008 o bugio-preto estaca listado como Pouco Preocupante (LC). 

Essa recente mudança de classificação se deve à suspeita de uma redução populacional de 25-30% ao longo de 36 anos (equivalente a três gerações; 2004-2040). Tal redução é resultado da contínua perda de habitats, da pressão da caça e da vulnerabilidade dessa espécie a surtos de doenças, como a febre amarela.

Classificação Científica

Apesar de ser um dos gêneros mais estudados dentre os Macacos do Novo Mundo, a classificação taxonômica dos Alouatta ainda não foi completamente definida, carecendo ainda de definição quanto ao número de espécies bem como a relação filogenética entre elas (Inglêz, 2006)

Conforme Gregorin (2006), a primeira referência à espécie não incluiu um nome binomial e ocorreu na obra de Azara (1801), na qual o autor explicou a origem do termo “caraya” como derivado do vocábulo indígena “Caayá,” que significa bugio-preto. A primeira descrição binomial da espécie foi realizada por Humboldt (1812), quando a incluiu no gênero Simia. Trabalhos posteriores classificaram o bugio-preto no gênero Alouatta

Reino
Animalia
Filo
Chordata
Classe
Mammalia
Ordem
Primates
Família
Atelidae
Gênero
Alouatta
Espécie
A. caraya

Distribuição Geográfica

O Bugio-preto (Alouatta Caraya) é a espécie com maior distribuição geográfica entre as espécies do gênero. No Brasil, o padrão de distribuição de A. Caraya é basicamente concordante com as áreas de mata dos biomas Cerrado e Pantanal, sendo encontrado nos estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins, Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Pará, Maranhão e Piauí (Gregorin, 2006)apesar de ser encontrado também no centro e no oeste do Rio Grande do Sul (Silveira, 2018). 

Na Argentina, o bugio-preto é encontrado na região norte. No Paraguai e na Bolívia, essa espécie está presente nas áreas do Chaco. Villalba et al. (1995) mencionam indícios de ocorrência no norte do Uruguai, embora não haja registros diretos.

Bugio-preto - Mapa de distribuição

Mapa de distribuição do bugio-preto (Alouatta Caraya). Fonte: Bicca-Marques et al. 2020

Descrição Geral

A espécie Alouatta Caraya apresenta um dimorfismo sexual evidente na fase adulta, sendo a coloração da pelagem do bugio-preto macho toda negra, já a fêmea tem a coloração castanha-amarelada. Quando filhotes, de ambos os sexos, apresentam a coloração castanho-amarelada. Durante o desenvolvimento, as fêmeas mantém a coloração, já os machos sofrem alteração deixando a pelagem escura. O bugio-preto se diferencia das outras espécies de Alouatta devido ao dicromatismo sexual e pela ausência do tentório no osso hioide (Gregorin, 2006). O hioide é um osso que fica na garganta, e essa modificação possibilita que o bugio-preto consiga fazer vocalizações muito altas. 

Dimorfismo sexual do bugio-preto. Fonte: Agrofloresta Amazônia

Comportamento

O bugio-preto vive em pequenos grupos sociais contendo em torno de quatro fêmeas adultas e um número menor de machos e além de jovens e filhotes.  São animais arborícolas que passam mais da metade do dia em inatividade e a maior parte da energia é gasta em atividades como forrageio e locomoção (Prates, 2007).  

Embora a locomoção típica do bugio-presto seja em quatro patas, esses primatas também demonstram grande habilidade com o uso do rabo, que é forte o suficiente para sustentar seu próprio peso sem dificuldades.

Vocalização

Apesar de habitarem biomas mais abertos, como os Pampas gaúchos, o Cerrado e o Pantanal, é nas áreas florestais desses biomas, geralmente nas Matas de Galeria, que os bugio preto vive. Em áreas florestais, onde a visualização só é possível à curta distância, a comunicação através da vocalização é extremamente importante no comportamento dessa espécie (Calegaro-Marques e Bicca-Marques, 1995). A vocalização característica do bugio é o rugido, que pode ser ouvido a longas distâncias. 

Os uivos do bugio-preto têm uma função de alerta, tanto para grupos rivais quanto para os membros do seu próprio grupo. Tanto os machos quanto as fêmeas emitem esses uivos, sendo mais comuns durante a tarde, mas também ocorrendo à noite, especialmente nas noites de lua cheia.

Alimentação

O bugio-preto é classificado como folívoro-frugívoros, sendo que as folhas podem representar até cerca de 80% da dieta anual, a qual é complementada com frutos, flores, caules e cascas (Bicca-Marques, 2003). Eles estão entre as poucas espécies de primatas do Novo Mundo que consomem folhas frescas, um alimento de difícil digestão que requer adaptações, incluindo o processo de ruminação. Devido ao baixo teor energético dessas folhas, eles precisam consumir grandes quantidades, muitas vezes equivalente a um terço de seu próprio peso. Em consequência, eles limitam seus movimentos.

Essa adaptação permite ao bugio alimentar-se de um recurso abundante na floresta, mas como contrapartida, precisam evitar o gasto excessivo de energia. Por esse motivo, esses animais tendem a ser bastante inativos e passam a maior parte do tempo descansando.

Reprodução

Alouatta caraya é uma espécie poligâmica, onde tanto machos quanto fêmeas têm múltiplos parceiros, acasalando com indivíduos do mesmo grupo ou até mesmo de grupos diferentes. A poligamia das fêmeas de bugio-preto pode ter como objetivo aumentar a taxa de fecundidade ou confundir a paternidade, especialmente quando lidam com machos mais agressivos. O período de gestação varia de 180 a 220 dias e não apresenta uma sazonalidade marcante. Geralmente, nasce apenas um filhote, o qual é carregado nas costas pela mãe nos primeiros meses de vida.

Habitat e Ecologia

Alouatta caraya é encontrado em florestas decíduas, matas de galeria e florestas xéricas, bem como em pequenas áreas florestais em habitats de savanas. Atualmente, ocupa áreas de florestas fragmentadas em grande parte do Cerrado no centro do Brasil e no Pantanal de Mato Grosso. A espécie também é encontrada em florestas decíduas (caatinga alta) em algumas regiões do sul do Piauí, oeste da Bahia e noroeste de Minas Gerais. No Rio Grande do Sul, ocorre em florestas mistas perenes (Araucaria), áreas florestais isoladas em savanas, florestas sazonalmente decíduas e matas de galeria (Bicca-Marques et al., 2021)

Bugio-preto Arvore

Foto: Patrícia Kunt

Principais Ameaças ao Bugio-preto

Segundo Bicca-Marques et al., 2021 o bugio-preto (Alouatta caraya) está ameaçado pela perda de habitat devido ao desenvolvimento agrícola e pecuária no cerrado brasileiro. A fragmentação dos habitat dificulta a dispersão dos indivíduos e isola as populações, deixando-as mais vulneráveis à doenças, caça e predação. Esses pesquisadores também destacam a caça de subsistência e surtos de febre amarela silvestre no Brasil como fatores responsáveis pela redução populacional dessa espécie. É importante ressaltar que a febre amarela não é transmitida diretamente pelos macacos, uma vez que sua principal via de transmissão envolve a picada de mosquitos. Os ataques a macacos, além de representarem um desastre ecológico, aumentam o risco de transmissão direta de outras doenças por meio de mordidas ou arranhões

Referências Bibliográficas

BICCA-MARQUES, J.C., 2003. How do Howler Monkeys Cope with Habitat Fragmentation? In: MARSH, L. Primates in Fragments: Ecology abd Conservation, Kluwer Academic/Plenum Plubishers, New York, p. 283-303.  Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/221657892_How_do_Howler_Monkeys_Cope_with_Habitat_Fragmentation

BICCA-MARQUES, J.C., RUMIZ, D.I., LUDWIG, G., RIMOLI, J., MARTINS, V., DA CUNHA, R.G.T., ALVEZ, S.L., VALLE, R.R., MIRANDA, J.M.D., JERUSALINSKY, L., MESSIAS, M.R., CORNEJO, F.M., BOUBLI, J.P., CORTEZ-ORTIZ, L., WALLACE, R.B., TALEBI, M. e DE MELO, F.R. 2021. Alouatta caraya (amended version of 2020 assessment)The IUCN Red List of Threatened Species 2021: e.T41545A190414715. Disponível em: https://www.iucnredlist.org/species/41545/190414715. Acesso em: 26 set. 2023.

CALEGARO-MARQUES, C., BICCA-MARQUES, J.C. 1995. Vocalizações de Alouatta caraya (Primates, Cebidae). A Primatologia no Brasil  v. 5, p.129-140. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/291048329_Vocalizacoes_de_Alouatta_caraya_Primates_Cebidae

GREGORIN, R. 2006. Taxonomia e variação geográfica das espécies do gênero Alouatta Lacépède (Primates, Atelidae) no Brasil. Revista Brasileira de Zoologia v. 23, n.1, p.64-144. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbzool/a/TMzTcKJS6rFYnqNjKrsFNRz/?format=pdf&lang=pt

INGLÊZ, A.P.D. 2006. Caracterização genética de Alouatta caraya (Primates, Atelidae) utilizando marcadores heterólogos do tipo microssatélites. Dissertação (Mestrado em Biologia Animal), Universidade de Brasília, Brasília. Disponível em: http://www.realp.unb.br/jspui/handle/10482/3591 

PRATES, H.M. 2007. Ecologia e comportamento de um grupo de bugios-pretos (Alouatta caraya) habitante de um pomar em Alegrete, RS, Brasil. Dissertação (Mestrado em Zoologia), Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. Disponível em: https://tede2.pucrs.br/tede2/handle/tede/298

SILVEIRA, F. F. 2018. Fauna Digital do Rio Grande do Sul. Bird and Mammal Evolution, Systematics and Ecology Lab – UFRGS. Disponível em: . https://www.ufrgs.br/faunadigitalrs/citacao-de-paginas/. Acesso em: 26 set. 2023 .

VILLALBA, J.S., PRIGIONI, C.M., SAPPA, A.C. 1995. Sobre la posible presencia de Alouatta caraya en Uruguay. Neotropical Primates v. 3, n.4, p.173-174. Disponível em: https://static1.1.sqspcdn.com/static/f/1200343/18197284/1337025459107/NP3.4.pdf?token=Tqs43LrC5wRFRbmMpeCN9QoPDuw%3D

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